sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Uma pedra no meio do caminho

Já atendi um monte de pacientes com cólica renal e algumas vezes tive a impressão de que o paciente poderia estar exagerando na manifestação de dor.
Isso é pra ver que médico não sabe nada mesmo.
Semana passada tive uma crise de cólica de rim à direita e achei que ia dar à luz. Rapaz!...
Olha um pedaço da danada da pedra, após ser bombardeada por laser dentro do meu ureter.



Resultado: atestado por alguns dias, repouso, antibiótico, antinflamatório e um cateter duplo jota para manter o fluxo de urina entre o meu rim direito e a bexiga, por uma semana.
Agora morro de dó dos pacientes com cólica de rim...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Os pássaros


Assisti ontem ao clássico "Os Pássaros", de Alfred Hitchcock (1963). Mas, apesar de a passarada de Hitchcock ter apavorado uma cidade inteira e matado umas 3 pessoas, o filme não chegou a me assustar. Talvez porque eu já esteja acostumado com o estrago feito pelos malditos pássaros do HU (vide foto abaixo). Esses sim, não perdoam!



(Aliás, muito estranho que no filme do Hitchcock não apareça nenhum cocôzinho em momento nenhum do filme, apesar da gigantesca concentração de pássaros de várias espécies no vilarejo praiano de Bodega Bay.)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Imagens da semana (passada)


Vereador Henrique Barros sendo levado algemado, de camburão, para depôr no Fórum, e depois tentando explicar aos jornalistas que focinho de porco não é tomada.
Revigorante, para os homens de bem, ver cenas como essa.
Pena que não vai ficar muito na cadeia, já que a lei, no Brasil, foi feita para proteger bandido.

Fotos: Folha de Londrina

Turismo em Londrina

Olá, visitante incauto.
Se você veio a Londrina a passeio e não conhece nada da cidade, que tal visitar a página da Prefeitura da cidade para buscar umas dicas de turismo? E, na seção de Turismo, que tal procurar por alguma casa noturna para sair com sua esposa e espairecer um pouco essa cabeça cansada de tantos problemas?
Graças a Deus a Prefeitura de Londrina tem uma lista muito boa de casas noturnas da cidade na sua página na internet, no endereço:
http://home.londrina.pr.gov.br/homenovo.php?opcao=turismo&item=casasnoturnas
Agora, aqui vai o meu aviso de amigo. Não vai ser muito divertido se você resolver levar a patroa para jantar no último local sugerido pela lista da Prefeitura Municipal.
O "Shirogohan Restaurante", último item da lista de casas noturnas, é uma casa de tolerância. Um prostíbulo. Um lupanar. Uma casa de burlesco. Uma zona de meretrício.
É isso mesmo que você entendeu, rapaz (não precisa ir olhar no Aurélio não). É um puteiro!!!
Muito bonito a propaganda que a Prefeitura faz, no seu site oficial, de uma casa onde se pratica a prostituição - uma prática que, apesar de ser a profissão mais antiga do mundo, não deixa de ser crime tipificado pelo Código Penal Brasileiro.
Já que os políticos são todos uns filhos da p..., porque não anunciar as colegas das suas mães na página da Administração Pública? Propaganda grátis paga com o meu, o seu, o nosso dinheiro dos impostos???
Vivemos num mundo surreal mesmo.

Crítica construtiva?...

Do livro "O Soldado Fanfarrão", de George Moura (Editora Objetiva, 2a edição, p. 176), sobre o trabalho de Paulo Francis como crítico teatral do Diário Carioca, de 1957 a 1962:

"Crítica Construtiva é definida pelo dicionário de usos de linguagens de Bergen e Cornelia Evans como ´Hipocrisia´, que esconde um desejo dos criticados de elogios sem restrição. E conclui: ´É uma expressão sombria, evitada pelas pessoas que raciocinam com senso de justiça´."

Adorei. E não me venham com xurumelas!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Janelas da Alma

Médicos são o pior tipo de paciente que existe.
Eu sou a prova. Resolvi trocar a marca do meu desodorante e comprei um aerossol da Rexona ("Active"). Hoje fui usar o bicho pela primeira vez e em vez de sair um aerossol saiu uma espuma em flocos, parecendo neve carbônica, que em vez de atingir minhas axilas foi direto no meu olho esquerdo (não me pergunte como). Resultado: agora, seis horas depois, meu olho tá vermelho, coçando e minha visão ficou turva no olho esquerdo. Quando fecho o direito, fica tudo turvo.
Se alguém me contasse uma história idêntica e perguntasse o que fazer, eu, como médico, não teria a menor dúvida: procure um pronto-socorro. Sim, porque provavelmente o desodorante deve ter provocado alguma reação química e tirado a parte mais superficial da córnea - isso leva à turvação visual, à vermelhidão e à sensação de ardência no olho afetado. Tratamento: oclusão. Ou seja: lava-se o olho com muito soro fisiológico, aplica-se uma pomadinha para ajudar a córnea a cicatrizar (o que leva, geralmente, umas 24 horas) e tampa-se o olho afetado com uma bola de gaze e esparadrapo até o dia seguinte.
Fiz isso?
Claro que não.
E olha que estou trabalhando no hospital, bem do ladinho do pronto-socorro, onde eu conheço praticamente todo o mundo e seria facílimo ser atendido.
Acho que nós, médicos, morremos de medo de ir parar do outro lado da equação médico x paciente. Não só pelo medo comum da enfermidade e da doença, mas também pelo medo do ridículo da situação. Eu, pelo menos, fico pensando no que é meus colegas vão dizer ao me ver deste lado do pêndulo. No exercício do nosso trabalho, somos constantemente levados a pensar no paciente como um outro tipo de pessoa: ele tem a doença, eu trago a cura. Portanto, sempre nos sentimos desconfortáveis quando temos que passar para o outro lado. O que não tem fundamento nenhum, já que somos exatamente tão humanos e suscetíveis a doenças quanto qualquer outra pessoa (ou mais, até, já que vivemos permanentemente expostos a todo tipo de risco biológico e social). Acho que nessa hora nos passa na cabeça as vezes em que poderíamos ter atendido melhor determinada pessoa. Melhor do ponto de vista da competência técnica ou da sensibilidade humana, não importa. Mas temos medo de sermos mal-atendidos. Eu, da minha parte, lembro de pelo menos umas 3 ou 4 vezes em que atendi alguém do jeito errado: sem paciência ou verdadeiro cuidado pelo sofrimento dessas pessoas. O que pode ser parcialmente justificado, ao menos, por coisas como cansaço, falta de condições de trabalho, excesso de pacientes para atender etc., mas nunca desculpado. E se eu for uma dessas pessoas que são mal-atendidas? Isso é algo que devia ser melhor estudado: as reações do médico que se torna paciente. Lembro de um ótimo filme (do qual nem sequer lembro o título), sobre um médico que descobria que tinha um câncer na laringe e o tratamento frio, desumano e impessoal que ele recebeu de todos os seus colegas, quando tudo o que ele queria era um pouco de apoio e compaixão.
Ao mesmo tempo, já sei exatamente o que todos meus colegas diriam ao saber que eu tive este negócio no olho e não procurei atendimento: "Tigrão!" ("Tigrão" é a gíria médica para maus pacientes, aqueles que não seguem orientação médica.) Interessante: alguns médicos não gostam quando você os procura por qualquer bobagem; ao mesmo tempo, esses mesmos profissionais não gostam quando você tem algo e não os procura.
Bom, tanto faz. Não vou procurar atendimento.
Melhora sozinho.
Ou não.
Boa sorte para mim mesmo. E Feliz Ano-Novo para todos!

sábado, 8 de dezembro de 2007

Elite da elite, tropa da tropa

Acabei de ler "Elite da Tropa", o livro escrito pelo(s) roteirista(s) do filme "Tropa de Elite". Ótimos, tanto o filme quanto o livro. O livro mostra, de forma ainda mais contundente do que o filme, a podridão do sistema policial do RJ, que está evidentemente mancomunado com o tráfico (ou vocês acham que o tráfico conseguiria ir mesmo tão longe se houve repressão policial de verdade?).
Uma das idéias centrais do livro me chamou muito a atenção. Muita gente fala que os bandidos da favela são vítimas, porque não conseguem nenhuma forma lícita de garantir uma vida digna para si e para suas famílias. Da mesma forma, os policiais ganham muito mal para enfrentar todo o perigo e a tensão que enfrentam, por isso se corrompem.
Mas será que ganhar pouco é atenuante para o crime? Os autores sugerem que não, já que há tantos trabalhadores pobres mas que continuam sendo honestos.
Cada um pense como quiser... Eu acho que não existe apenas uma resposta certa para esse dilema, que é complexo demais para ser abarcado apenas por conceitos rasos, como: honestidade, caráter, necessidade. O buraco é muito mais embaixo, mais largo e mais fundo do que se imagina.
Em relação ao livro: seria ótima ficção, se não fosse a verdade mais asquerosa.
(Gostei mais dessa frase quando formulada em inglês: good fiction, if it weren´t the bad, bad truth...)

"Purtugueiz praque?" - I


Da séria série "Só Me Frodo Mesmo" - II

Ontem precisava resolver uns assuntos burocráticos no centro da cidade. Fui cedo porque achei que ia ser demorado, pedir umas certidões, documentos etc. Então pensei: "melhor deixar o carro num estacionamento, já que vai demorar." Pois bem: coloquei o carro no estacionamento embaixo do Shopping Royal Plaza, às 8 da manhã. Detalhe: o shopping só abre às 10, mas o estacionamento já tava funcionando. R$ 3,50 de estacionamento - mas tudo bem, eu ia ficar bastante tempo mesmo... Tirei meu ticket na maquininha da entrada, deixei o carro e fui ver meus pepinos. Só que foi muito mais rápido que eu pensava: em 10 minutos eu já tinha resolvido tudo. Impressionante como a máquina pública só é rápida quando você está preparado para agüentar a demora!
Bom, fui de volta ao Royal para tirar meu carro do estacionamento. Supresa! O guichê onde você paga o estacionamento, para poder retirar o carro, fica no primeiro andar do shopping - portanto, inalcançável antes das 10 horas da manhã, enquanto o shopping não abre. Que inteligente... Aí achei um guarda no estacionamento que falou pra mim colocar o carro na frente da cancela da saída e ficar buzinando até aparecer algum funcionário para receber os R$ 3,50 (por 10 minutos) do estacionamento. Sugestão do guarda, quero deixar registrado!
Achei pitoresco mas foi assim que procedi. Coloquei o carro parado na saída do estacionamento e buzinei 1, 2, 3, 4 vezes... Até que apareceu um fulaninho com uniforme do estacionamento, só que não veio me atender. Saí do carro e corri atrás dele, pedindo para pagar o estacionamento porque eu precisava sair. Ele olhou para mim como quem está diante de um cara babando numa camisa de força. "Mas vai sair?" Concordei, embora confesse que tenha ficado um pouco envergonhado de estar indo embora tão cedo...
Ele não podia receber. Mas ele ia encontrar quem podia. Resultado: saiu correndo, subiu numa escada, foi procurar um outro funcionário, o qual desceu depois de mais alguns minutos. Falei que queria pagar porque precisava ir e ele me encarou com a mesma cara de quem está lidando com um louco perigoso. Fiquei pensando: será que é proibido ficar tão pouco tempo?
Bom, no final das contas, depois de buzinar 4 vezes, correr atrás de um funcionário e passar por louco diante deste e de mais um, totalizando R$ 3,50 e uns dez minutos perdidos, consegui finalmente sair do estacionamento.
A conclusão, enquanto eu ia embora: demorei mais tempo para conseguir tirar o carro do estacionamento do que pra pedir meus documentos na repartição pública.
Shame on you, Estacenter, shame on you...
Pra entrar no estacionamento é tudo muito simples, pois é mecanizado (só apertar o botão da maquininha na entrada), mas para sair você depende de um ser humano (ou mais de um), então a coisa complica.
Cada vez fico mais desiludido com a humanidade... Se eu fosse o Neo, no filme Matrix, acho que eu ia preferir morar com as máquinas.
Sei que nunca mais caio na arapuca do estacionamento do Royal.

Ladeira abaixo

Absolveram Renan Calheiros. De novo. Na última quarta-feira, 29 senadores cumpriram seu dever cívico e moral votando a favor da cassação, 48 cúmplices com o rabo preso votaram contra, e 3 celenterados sem espinha vertebral se abstiveram.
O que esperar de um país como este, onde as instituições democráticas se regem apenas pela camaradagem e pelo coronelismo, pouco ligando para a vontade popular?
Ladeira abaixo, ladeira abaixo...

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