sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

"Melhor" formando da UEL ganhará R$ 10 mil

A Universidade Estadual de Londrina anunciou que vai premiar o "melhor" formando de 2008 com um prêmio de R$ 10 mil, bancados por um convênio com a Caixa Econômica Federal (pou-pan-çu-do da Caixa!).
A idéia em si é interessante, por estimular o melhor desempenho acadêmico dos alunos e tal, e me lembra a iniciativa de uma escola particular da cidade (Maxi) de premiar com um carro zero o aluno que fosse melhor colocado no vestibular da UEL.
O que me preocupa é a corruptibilidade inerente ao ser humano. Explico: os professores da UEL (eu, inclusive) ganham uma merreca. Os alunos, em boa parte, são carentes. (Eu ia escrever "a maioria dos alunos", mas não tenho certeza desse dado, uma vez que uma grande parcela dos alunos da UEL - uma universidade pública - hoje provêm de escolas particulares, que os preparam muuuito melhor que as escolas públicas.)
Pois bem: as notas que os alunos tiram durante seus cursos dependem, na minha opinião, de 4 coisas diferentes:
a) o desempenho do aluno;
b) o nível de dificuldade das avaliações;
c) o grau de dificuldade do curso;
d) a mais imprevisível de todas: como o professor interpreta ou corrige as avaliações de cada aluno.
Imaginemos um aluno que está indo muito bem de notas ao final de seu curso, e percebe que está na dianteira para ganhar o tal prêmio em R$ 10 mil ("para o início da carreira profissional ou estimular a pós-graduação"). Lógico que ele vai implorar a todos seus professores para que dêem uma "forcinha" para que ele tire sempre ótimas notas, visando à obtenção do prêmio. O professor, fundido e mal-pago como a maioria dos docentes de instituições públicas, pode ver aí a oportunidade para conseguir pagar aquela fatura atrasada. Porque não propôr um acordo com o aluno? Eu te dou boas notas e você me dá uma porcentagem do prêmio depois... O conhecido e famigerado "jeitinho brasileiro". É só uma hipótese mirabolante da minha parte, mas, quem garante? Quem fiscaliza o jeito do professor corrigir uma prova, por exemplo? Todos sabemos que uma mesma prova pode ter várias interpretações (e notas) diferentes dependendo de quem a corrige e como o faz.
No caso do Maxi, é muito difícil ocorrer uma fraude, já que o sistema de avaliação é rígido e tem normas muito bem estabelecidas (pontuação no Vestibular da UEL), aplicando a mesma prova para todos, e sem margem para interpretação pessoal da pessoa que corrige a prova, já que esta é objetiva (múltipla escolha). Mas, e no caso das provas escritas, trabalhos, monografias, "notas de conceito" e outras formas de avaliação que estão envolvidas no tal "desempenho acadêmico" de um aluno da UEL?
E como é que a UEL vai permitir comparar notas de alunos que fazem cursos completamente diferentes? Classicamente, alunos de Engenharia, por exemplo, estão acostumadíssimos a tirar notas terrivelmente baixas, já que nas Ciências Exatas não existe "meio-certo" - a Matemática só permite 2 respostas, certo e errado. Já nas Ciências Humanas, as notas costumam ser um pouco mais altas, pois as respostas do aluno numa prova podem estar certas, erradas, meio-certas, um pouco certas etc., dependendo da interpretação do professor.
Sei não... O prêmio não é lá essas coisas (embora equivalha ao salário de 17 meses de um professor auxiliar com carga horária de 20 horas semanais como eu), então a história não deve dar tanto pano pra manga. Mas eu vou ficar de olho no resultado desse prêmio... Aposto que vai sair para algum aluno de Humanas.
Já sei até que vão dizer que isso é dor-de-cotovelo de um docente/aluno das Biológicas, como eu, e que eu devia ter vergonha de fazer essas insinuações maldosas. Vergonha mesmo eu tenho é do meu holerite.

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